O Prédio
Visto da rua o prédio não parecia tão grande,
ninguém daria nada por ele. É verdade que se viam as filas de janelas até o
quarto andar. Talvez fosse a tinta desbotada que tirava a impressão da
enormidade. Parecia um velho sobrado como outros, apertados na ladeira do Pelourinho, ele, colonial
ostentava azulejos raros. Quatro andares e um sótão, um cortiço nos fundos, a
venda do Fernandes na frente, e atrás do cortiço uma padaria árabe clandestina.
Nos 116 quartos
mais de 600 pessoas. Um mundo, Um mundo fétido diga-se, sem higiene, qualidades,
ou moral, com ratos, escorpiões, palavrões e gente, muita gente!
Operários, soldados. “Árabes de fala
arrevesada, mascates, ladrões, prostitutas, carregadores, estivadores, gente de
todas as cores e raças, de todos os lugares, com os muitos trajes enchiam o
sobrado”.
Joões, Marias, Onofres, Zés, Bethes,
Ernestos, Raimundas, Ingrides, Saíbes, Radagazios, Charlés, Roses, Giacomos,
Bernabés, Ralfes e Ataídes,.. muitos desses nomes se misturavam aos mistérios que
dominavam aquele prédio. E dentro desse esquisito e fétido lugar, estava mais
um outro João o tal Jão Fala, ou Jão bom papo, ou Jão Baruião. Era impossível
tirar palavras do Jão, era lacônico o sujeito. Ganhou esse epíteto, pois
ninguém conseguiu saber seu nome verdadeiro, mas para aquele lugar o nome não
tinha importância alguma. Fosse João, Jão, ou qualquer coisa do tipo. Além do
mais, o resto das pessoas deveriam ter os nomes inventados e parecidos com o do
Jão Baruião.
O endereço de correio desse imóvel, era a venda do
Fernandes, bem do outro lado do prédio, quase na entrada, servia aos poucos que
se aventuravam a ter um nome.
Ninguém entrava no palacete, a não ser os que lá
moravam, ou, uns poucos autorizados. Aquele prédio enorme só tinha uma entrada,
as outras foram lacradas. E construído
com enormes porões.
O tal palacete
era datado de 1820 e fora habitado até 1960 pelo último dono, o Barão Bernardo
Bentuvio III, que morreu solteiro, velho e sozinho dentro dessa enorme estrutura
da ladeira do Pelourinho.
Esse barão, não deixou testamento
algum e ninguém apareceu para reclamar a tal herança, nem mesmo pagar a dívida
de 300 milhões de cruzeiros de impostos taxados ao tal casarão.
Quase todos os objetos de valor que
estava por lá foram levados, “roubados” pelos antigos empregados que não
receberam indenizações depois de sua morte, e levaram os muitos valores como
forma de pagamento.
Com o estado ficou a posse do
casarão que o tombou em 1962 para ser transformado em museu.
Nunca se soube por que não
concretizaram a ideia desse museu.
O prédio foi abandonado e esquecido,
e acabou invadido por gente qualquer: uma mistura de Putas, viciados,
malandros, punguistas, salafrários, ladrões, andarilhos e muitos outros desocupados.
Um dos ilustres moradores do local,
era esse “Jão Baruião”, um bebedor de pinga do empório do Fernandes, um comércio
que vendia de tudo: Arroz, feijão, farinha, lamparina, lampião, jabá, enxada,
galocha, fumo de rolo, marmita, anil, galinha viva, porco, purgante, cigarros e
outros apetrechos. Entre as muitas atividades de vendas, estava o ponto de
drogas daquela região. Fernandes é Argentino casado com uma baiana chamada Rosa
Malandra, colecionadora de amantes espalhados pelo cortiço, entre eles, os
principais são uns crioulos da pesada, inclusive abastecedores do ponto de
Fernandes “LSD e heroína”.
O argentino não sabia das escapadas de Rosa, e
ela a baiana malandra, também mal desconfiava que o maridão machão e bravo,
também era muito chegado a amantes, digo: Uns amantes! Na verdade, o “Platino”
adorava usar Ruge e Batom, e pasmem, amava camisolas. Uma ou duas vezes por
semana, Fernandes saía para fazer entregas, que só ele podia fazer, e levava
sempre consigo uma mochilinha onde devia ter seus pertences femininos. Suas
escapadas acabavam demorando bastante, muito tempo, uma eternidade, e voltava
sempre muito feliz e sorridente.
Um das coisas esquisitas daquela
região era a troca de favores entre todos.
E muitos sem dinheiro, conseguiam “sobreviver”, assim como o tal Jão
Baruião que mesmo sem nenhum dinheiro, tomava suas muitas cachaças. Sempre
bêbado e calado, circulava por todos os lados, caia; levantava; andava; caia
novamente; bebia mais; caia outras vezes mais. Esse conhecia os muitos atalhos
do cortiço, sabia e via tudo, mas não falava absolutamente nada! Era lacônico o
Baruião.
E quem ligaria para qualquer história de um
farrapo daqueles?
Morava no térreo daquele cortiço em
meio ao lixo, baratas e ratos, num quarto de 36 metros, dos quais só
uns seis eram transitáveis. Tinha um fogão jacaré, uma espiriteira (feita com
pregos e uma lata de sardinha) em cima de uma mesa de três pernas onde ficava uma
lamparina, nesse meio, muitos sapatos de numerações distintas e cores diversas,
não importando se direitos ou esquerdos estavam lá assim mesmo! Roupas - uns
Trapos amontoados perto de uma banheira velha.
Banheiro? Não tinha naquele quarto!
Mas existia sim (um) no corredor, bem ao lá no fundo do andar térreo, era de uso
coletivo, e diga-se: Lastimável!
Muitos preferiam usar qualquer canto, menos esse
banheiro!
As janelas do seu quarto estavam
emperradas pelo tempo, a porta não fechava, e o piso era rachado ao longo do
quarto e alguns montes de papelões lhe serviam de cama. Muitas garrafas de
pinga espalhados, das marcas: Três fazendas, Tatuzinho, Ximbó, Vai com Deus,
Riopedrense, etc. Centenas de pontas de cigarros, os tantos cigarros sem filtro
decoravam o piso: Continental, Olé, Marabá, Copa de ouro, Seleto, Capri,
Imperador, Lincon, Kent, Mistura Fina...
Numa madrugada de fevereiro 1970,
aconteceu um incêndio no quarto de Jão Baruião, provavelmente, ou, quem sabe? Provocado,
por querosene que derramou da lamparina, ou, por algum cigarro mal apagado.
O fogo queimou tudo, e Baruião,
bêbedo, não pode levantar e nem correr, acabou como vítima desse incêndio, levado
para o hospital local, com algumas queimaduras e inconsciente e entorpecido
pela fumaça e bebida.
O fogo foi praticamente, ou
totalmente apagado pelos moradores locais. Quando, o Corpo de Bombeiros chegou,
não tiveram quase o que fazer, o único trabalho, foi o de levar o acidentado ao
hospital, fogo já não tinha mais.
Na
ocorrência, os relatos estavam fora do padrões, eram evasivos, com apenas duas linhas na
ocorrência que mencionava um senhor sem nome que estava naquele local, da ladeira
Pelourinho, também sem numero. Entre poucas palavras que constavam no boletim, era
que ele morador não tinha identificação, e sofrera algumas queimaduras.
Baruião foi medicado e ficou em observação
por uma semana, pois certas queimaduras foram no rosto, e por sorte, apenas
queimaduras de primeiro e segundo graus, as quais, consideradas leves, que acabaram
queimando os seus cabelos e barba. Entretanto o médico de plantão relatara, que
a sujeira, o “cascão” pelo corpo do desconhecido, acabou por protegê-lo de queimaduras
mais graves.
Em meio a tantos curiosos do cortiço
na hora do fogo, um se destacava...
Era um observador atento ao fato, esse
acabou ajudando no corre-corre para apagar as chamas.
Talvez, teria sido esse tal observador
que teria chamado os bombeiros, pois os ocupantes daquele lugar não se
atreveriam a algo do gênero. Ele o observador não era tão estranho ao bairro,
se fosse nem estaria ali.
Ele também era um frequentador da bodega
do Fernandes. Um sujeito de roupas puídas, cabelos desgrenhados e sapatos
sujos.
A única certeza era que os moradores
não sabiam que ele, na verdade, era um jornalista disfarçado como desocupado,
à procura de uma boa história.
Quanto
ao seu segredo, não parecia ser diferente a ninguém dali, pois todos de alguma
maneira, também guardavam os seus muitos segredos.
Os
mais comuns: Era a origem, nomes, condutas, passados, identidade,
nacionalidade, religião, alguns escondiam até a sexualidade...
Mas nome ele tinha de verdade, era
Onofre Sales esse tal jornalista. Era contratado junto ao Jornal Diário Baiano,
era também escritor nas horas vagas, escreveu alguns contos sem muita divulgação.
Morava de aluguel fora dali, próximo
da padaria Árabe, em uma casa de cômodos, de propriedade do Sinhozinho Praxedes,
ex-deputado da Bahia nos anos 50, e que também era muito conhecido ao redor.
Sales, por puro interesse, com
pensamentos rapino, foi o único a visitar o Jão Baruião no hospital local,
tentando sem sucesso algum contato, mas sem êxito.
Jão era um silêncio só, com um olhar perdido
de alguém que não quer mesmo ser percebido.
Onofre Sales insistiu, nos outros
dias, até que, com muita marra, consegue arrancar de Jão algumas palavras,
coisa inédita!
- O que quer? Disse Baruião! Dar-me pinga? Se for isso, aceito! Se não for, tchau!
Desapareça!
- Calma,calma! Calminha! Meu Bom
amigo! Só quero uma coisinha de nada! Vim aqui devolver o que lhe pertence!
Bom amigo? Quer o que? Devolver-me? Não
entendi?
Então, Onofre conta que havia revirado os
escombros do incêndio e achou uns papeis e fotografias numa capanga, dentro da velha
banheira, o olhar de Jão mudou repentinamente, muito bravo e ameaçador. Com
bastante rispidez aponta seu dedo: “devolva meu lixo! É só lixo!” Devolva!
“Calma! devolvo já. Toma aqui, é seu,
sei disso, eu não quero incomodá-lo, o que é
seu é seu! Eu só quero conversar um pouco.”, falou o jornalista.
“O Que? Conversar Comigo? Está
delirando? Sou só um bêbado lixeiro e sujo e sucinto”. Eu não quero falar!
Mas Onofre reparou em sua fala, um
ótimo português! Dissera “para que”, sucinto, Dar-me, e não “pra que” , ou me
da, como era comum por ali! Falava com um jeito meio acadêmico, de quem
conhecia gramática.
Parece que Jão tinha muitos
mistérios na vida, inclusive esconder que sabia falar, e falar bem, mas não
queria que ninguém soubesse disso!
Onofre
disfarçou sua descoberta, para não mostrar-se tão investigador.
E
detalhadamente, sem ser interrompido relatou a Jão tudo o que acontecera no
incêndio, e que o lugar tinha virado um carvão por inteiro que ia ser difícil
ele voltar pra lá. Só há cinzas por lá!
Jão pegou de volta sua capanga,
chorou em silêncio, abriu, olhou algumas coisas e abraçou seu objeto,
“você viu as fotos? e meu RG.?
Viu?”.
Bem, dizem que os jornalistas são
curiosos e sem respeito,
Mas eu sou, além disso, um escritor
que gosta de uma boa história, não me julgo desonesto nem bisbilhoteiro.
Eu só abri sua capanga para ver se
tinha algum documento, descobri que existia, eu não li acredite em mim! Só vim mesmo
devolver!
Jornalista? espantou-se o homem.
Sim! É o meu segredo”, confirma
Onofre Sales. Parece que todos pelo bairro são assim, safos e misteriosos. Não
sou diferente quanto a isso!
Não pretendo incomodá-lo, não me interessa quem é
você! Apenas quero que me diga algo sobre o prédio e só.
Quero que me conte algo desse
misterioso prédio e seus porões. Não me interessa as pessoas.
Tenho vontade de escrever sobre
aquele prédio, eu sei que ele tem muitos mistérios, eu gostaria de escrever
algo sobre ele.
Jão
respondeu de bate pronto:
Não!
O prédio não, Desista!
Nunca
escreva nada sobre aquele lugar! É bastante perigoso.
Ninguém
gostaria da exposição do imóvel.
A
história poderia criar interesse de pessoas que não estão em parceria com que
lá estão.
Corre-se
o risco de desabrigos, mortes, e isso não seria justo de maneira nenhuma. É bom
que não mexa com isso, e também vai ser bom para todos e para sua saúde.
Como
assim, minha saúde?
Sim!
Isso mesmo que ouviu, a saúde de alguns, mudaram quando tentaram mexer com o prédio.
Alguns, tenho certeza, nunca mais
precisarão de médico algum.
O jornalista engoliu em seco e
sorriu sem muita graça.
Que diabos esconde-se por lá?
Pensou...
Iria me dar mal não é? Aquele
monumento tem coisa grande por trás, e gente muito grossa metida nisso, certo?
“Se nunca pensar naquele prédio e
nas imediações, você não irá sofrer”, concluiu Jão. O qual jornal que você trabalha
não é o Diário Baiano?”
É sim! Claro, Como sabe?”
Pois, bem! Sua historia sobre o
prédio nunca seria publicada por esse jornal, ou por qualquer outro desse estado!
Quem sabe, pense em uma outra história?
Onofre
estremeceu! E pensou para si: como esse farrapo sabia disso?
Eu
não disse nada do jornal, como ele sabia que era naquele jornal?
Em Agradecimento, pela devolução de
minha capanga, vou ajuda-lo!
Escreva sobre mim, é uma história que pode
interessar. Você viu meu RG? viu?
Bem vamos fingir que você não viu!
Se
viu, não prestou atenção no que leu.
Leia aqui no meu RG!”
Sim. É Manoel Saclac e daí?
- Agora, acho que sou o único que sabe seu
nome por aqui!
Talvez seja uma história razoável
respondeu o jornalista.
A história do meu nome não lhe
agrada?
Será que não lhe diz nada?
Não é muito esperto jornalista, não
é nada esperto!
Faça um anagrama do meu nome!
Onofre pensou, e escreveu num papel,
“Calças Leonam”
‘‘Não entendi ainda!
Pense mais!
É Fácil! Eu era o Leonam das calças.
Eu era o dono das empresas Leonam! Calças Leonam.
“Nossa! que loucura!Puta que pariu! Isso é
fantástico! Puta que pariu!
Essa empresa foi um poder há dez
anos, acabou sendo negociada por um dinheirão para um grupo americano, das Calças
Lee se não me engano, foi um negócio poderoso.
Exatamente foi isso! Mas eu vendi tudo! Até
minha casa, junto com empregados carros, cachorro e tudo mais Como dizem:...”
De Porteira Fechada”
“Puxa! Que historia fantástica pode
ser essa... eu,
Opa! Quieto! Desculpe! Sua história
não vai ser essa!
Isso é só para você saber quem eu fui. Vai ser
o seguinte:
Não terá nomes, nem endereço, ou coisa
assim:
Vai ser sobre alguém que mora na rua,
no anonimato, em um lugar qualquer.
Sobre alguém que era muito rico e
poderoso, e tinha tudo o que queria a seus pés.
Era muito próspero, ganancioso,
inteligente e boa pinta, casado, pai de três lindos filhos.
Alguém que só fumava charutos cubanos e usava chapéus Panamá legítimo, sapatos
de cromo alemão e dono de luxuosos carros, aviões, alguém sem limites.
Esse homem teve um caso com sua advogada e secretária particular, que era também, era sua própria cunhada.
Esse
caso se arrastou por meses, anos...quando foi descoberto pela esposa.
E
naquela noite, depois de sair com minha amante voltei para casa tarde.
Ela
esperou que eu chegasse a casa, e derramou tudo de uma vez , discutimos ruidosamente, ela pegou algumas
poucas coisas, enfiou no carro com as crianças e foi embora, saindo em disparada! Há dez quadras da nossa casa, o carro capotou e
caiu numa ribanceira e morreram todos! fez-se um breve silencio...
Fui o culpado!
Que
culpa tinham as crianças? Como eu pude fazer isso?
Eu nada fiz para impedir que minha mulher fosse
embora com as crianças, não fui atrás, e nem tentei segurá-la.
Apesar
da minha infidelidade, eu amava meus filhos e minha mulher, eu joguei tudo no
Lixo! “Eles não tinham culpa das minhas canalhices, e eu pus tudo a perder”.
Fiquei arrasado, e depois que eles se foram, vendi tudo que eu tinha,
nada sobrou!
Anonimamente, doei todo dinheiro das
vendas para instituições de caridade e hospitais, e sumi de tudo e todos, a barba
cresceu juntamente como meus cabelos, passei a me esconder em diversos buracos, favelas, cortiços,
alguns lugares abandonados, matagais, até chegar onde cheguei.
Agora fumo cigarros ruins, bebo as
piores bebidas, as mais ordinárias possíveis, calço os piores sapatos. Minha comida é lixo, isso é o mínimo que merece um homem como eu.
Quero ir até meus últimos dias,
embriagado, no silêncio, no lixo, morrendo aos poucos para sentir bastante
dor.
Fez
uma pausa...
Uma história não?
Você
não prejudicaria ninguém numa história assim. Será homem que ninguém sabe o
paradeiro, talvez, até posam pensar que o tal homem more no exterior, ou, que já
morreu.
Onofre Sales, pensativo, fez menção
de dizer alguma coisa, mas estava embaraçado e espantado, preferiu se calar, ao
estilo João.
Não sabia o que dizer para aquele homem, nem
mesmo o que perguntar.
Só disse: ótima história, mas bem triste!
Eu poderia redigir, e lhe mostrar
depois de amanhã?
“Claro que sim!”. Você sabe o que
escrever certo? Veremos como fica isso
no papel!
O jornalista escritor saiu silenciosamente,
num misto de ternura e dó.
Onofre
passou noite em claro, escreveu com muito cuidado a tal história.
E Como prometido, voltou no dia
combinado, mas acabou, sendo surpreendido, não encontrou mais ninguém na
enfermaria do hospital. Estranhamente, a cama na qual ficava Baruião estava
vazia e arrumada. Intrigado, perguntou para enfermeira onde estava o doente?
Ah! o tal doente? Não está mais aqui!
Desaparecera há dois dias sem deixar rastros, nenhum sinal, e os guardas do
plantão não perceberam seu desaparecimento.
Onofre
confuso, muito pensativo, procurou pelo bairro inteiro, e nada! nem sombra do
homem. Lógico que tomou todos os cuidados possíveis á respeito do nome de Jão em
sua busca.
Não
o encontrou, nem mesmo desconfia se voltará por ali, ou, se um dia voltaria para
aquele prédio.
O
que importa?
Com a história pronta em mão, leu,
releu e esperou por um sinal por algum tempo.
Quando achou conveniente encaminhou-se para
redação com a história debaixo do braço.
Na entrada do prédio parou, recostou-se
em uma pilastra, olhou para os lados, contemplou seus escritos, retorceu os
lábios, e num rápido movimento rasgou todas as páginas e atirou-as em numa lixeira.
E nos calcanhares deu meia volta,
ajeitou seu chapéu, sorriu para si, enfiou as mãos no bolso, e assoviando uma
melodia caminhou ladeira abaixo.
Joel de Almeida
Ferro